De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2001) A Saúde Mental é parte integrante da Saúde e foi definida como um estado de bem-estar em que o indivíduo tem perceção do seu potencial, consegue lidar com o stress do dia-a-dia e trabalhar de forma produtiva. Acrescenta ainda, que é a base para o bem-estar individual e para o bom funcionamento de uma comunidade.

Ao longo da vida a Saúde Mental dos indivíduos, vai estando sujeita a transições, ou seja, a períodos entre estados saudáveis e estados que exigem capacidade adaptativa a novas realidades. Cada transição é única, não só pelas suas complexidades, mas também pelas várias dimensões que ficam afetadas, pelo que importa não nos focarmos inteiramente na transição, mas sim na capacidade de cada pessoa face à transição.

A Este propósito, a transição para a parentalidade pode ser um dos mais exigentes papéis sociais em termos físicos e mentais (Janisse, Barnett e Nies, 2009). De acordo com a OMS (2001) todas as mulheres têm forte probabilidade de desenvolver transtornos mentais durante a gravidez e no primeiro ano pós-parto.

Com a gravidez surge um processo de profundas alterações físicas e psíquicas modeladas pelas expectativas e fantasias associadas ao projeto de parentalidade individual e/ou conjugal.

É necessária uma reorganização de identidade com vista à preparação para um novo papel que, em simultâneo, pode desencadear sentimentos tão ambivalentes e dispares que vão desde o despertar de imensa felicidade e sensação de autorrealização até um estado de profunda angústia e autodestruição.

O parto é um dos momentos mais marcantes na vida de uma mulher e a forma como é vivido e experienciado pela mesma, vai influir na imagem que tem de si mesma, na confiança ou descrença das suas capacidades enquanto mãe, na vinculação e ligação que estabelece com o recém-nascido, bem como na sua relação com o conjugue.

O pós-parto é um período de reconhecida vulnerabilidade para a tríade que pode favorecer o aparecimento ou agravamento de quadros psiquiátricos, incapacitando a mãe para as funções maternais, comprometendo a relação com o bebé e até a satisfação das suas necessidades básicas e de segurança e bem-estar.

A gravidez e o pós-parto constituem períodos críticos em que diversos condicionantes individuais, familiares, sociais, culturais, entre outros, se podem associar a doença mental perinatal, comprometendo os cuidados pré e pós-natais e a capacidade parental de cuidar e de interagir com o bebé.

Os transtornos psiquiátricos são frequentemente desvalorizados ou até escondidos pelo estigma associado, sentimentos de negação, medo de ficar sem o bebé e falta de informação. Serviços especializados e profissionais treinados na abordagem à saúde mental na área da obstetrícia, são uma necessidade premente.

É neste contexto que surge este curso, pretendendo sensibilizar os profissionais que cuidam de mulheres/homens e famílias durante esta fase das suas vidas, para as questões relacionadas com a saúde mental, conferindo-lhes ferramentas que lhes possibilitem diagnósticos precoces, abordagens e encaminhamentos adequados.